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      O sistema digestório é formado pelo trato ou tubo digestório, também conhecido como canal alimentar ou ainda trato gastrointestinal (TGI), e pelos órgãos anexos a esse tubo, como por exemplo, a língua, os dentes, as glândulas salivares, o pâncreas, o fígado e a vesícula biliar. O transporte da água e dos alimentos ingeridos ao longo desse canal alimentar, a secreção de líquidos, eletrólitos e enzimas digestivas, a digestão e a absorção dos produtos digeridos e a excreção de substâncias são relacionadas às principais funções do sistema digestório.

        O lúmen ou luz do tubo digestório é física e funcionalmente aberto para o meio externo. À medida que passa pelo canal alimentar, o alimento é decomposto física e quimicamente, de modo que os produtos degradados possam ser absorvidos para a corrente sanguínea. "Os diversos segmentos do tubo digestório são morfologicamente especializados para exercer processos específicos da digestão e da absorção" (ROSS e PAWLINA, 2019).

1. Trato ou Tubo Digestório

    O tubo digestório se torna realmente um tubo a partir do esfíncter esofágico superior (entrada do esôfago) e se estende até a parte terminal do canal anal. Apesar do diâmetro ser variável, apresenta a mesma organização estrutural básica em toda a sua extensão.

     Sua parede é formada por quatro camadas distintas sendo elencadas da mais profunda para a mais superficial:

TEXTO

1. Trato Digestório Baixo
3. Órgãos Acessórios ou Anexos ao Sistema Digestório

3.1. Glândulas Salivares

      Glândulas salivares são órgãos epiteliais glandulares que sintetizam, maturam e secretam a saliva para a cavidade bucal. Existem três pares de glândulas salivares maiores, a glândula parótida, a glândula submandibular e a glândula sublingual, além de glândulas menores localizadas por toda a cavidade bucal. Esses órgãos são histologicamente divididos em parênquima e estroma. O parênquima compreende a porção funcional das glândulas salivares, o qual é constituído por unidades estruturais denominadas adenômeros. O estroma compreende todas as estruturas de suporte e sustentação da glândula incluindo o tecido conjuntivo, os vasos linfáticos e sanguíneos e feixes nervosos.

     Os adenômeros, portanto, compõem o parênquima das glândulas salivares e são divididos em porção secretora e porção condutora. Os adenômeros são estruturas semelhantes a cachos de uvas, neste modelo, as uvas representariam a porção secretora terminal das glândulas salivares, formada por unidades esféricas (ácinos) ou tubulares (túbulos) e os caules representariam o sistema de ductos que compreende a porção condutora.

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      A porção secretora é composta por um conjunto de células serosas, mucosas, ou ambas, denominadas unidades secretoras terminais (ácinos e túbulos), além das células mioepiteliais que envolvem as unidades secretoras terminais.

     As células serosas dispõem-se formando unidades esféricas (ácinos), elas produzem uma secreção rica em íons e água e uma pequena quantidade de glicoproteínas. As células serosas, quando coradas em HE, se apresentam como células triangulares a piramidais com núcleos localizados na sua porção basal e seu ápice voltado à luz do ácino com citoplasma bastante basofílico.  Essas células são repletas de ribossomos, retículo endoplasmático rugoso e complexo de Golgi que são organelas que sintetizam proteínas, além de vesículas de transporte e secreção. As células serosas são justapostas por interdigitações de membrana, desmossomos e junções oclusivas.

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     As células mucosas dispõem-se formando unidades alongadas (túbulos), e secretam um conteúdo mais denso e viscoso, rico em glicoproteínas e carboidratos (mucina), são células piramidais e, quando coradas em HE, se apresentam pálidas e com núcleo mais achatado localizado em sua porção basal. Por ser uma célula produtora de muco e carboidratos, ela possui, em seu citoplasma, algumas organelas mais proeminentes como o complexo de Golgi, o retículo endoplasmático rugoso e vesículas de transporte e secreção. Assim como as células serosas, as células mucosas se comunicam através de projeções de membrana e desmossomos.

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      Muitos túbulos mucosos possuem células serosas na sua extremidade, constituindo as semiluas serosas. Esta célula serosa em semilua é responsável por adicionar conteúdo seroso aos ácinos mucosos.

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    As unidades secretoras terminais, bem como os ductos intercalares (vistos a seguir) são envolvidos por células de capacidade contrátil denominadas células mioepiteliais, localizadas junto à lâmina basal destas regiões. A contração das células mioepiteliais é responsável pela expulsão dos produtos de secreção das unidades terminais. Quando coradas em HE, apenas seus núcleos são visíveis nos cortes histológicos.

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       Outra porção do parênquima glandular são os ductos que drenam o conteúdo produzido pelas unidades secretoras terminais. Este conteúdo é secretado em um lúmen que segue contínuo em ductos com características celulares bem específicas e, além de conduzir a secreção produzida pelos ácinos e túbulos, alteram seu conteúdo pela adição de novos componentes. Seguindo as unidades secretoras terminais estão os ductos intercalares. Ao estudo histológico, os ductos intercalares são os ductos menos espessos, revestidos por células epiteliais cúbicas com microvilosidades apicais, com núcleo central e bastante basofílico e citoplasma escasso com alguns retículos endoplasmáticos rugosos e complexos de Golgi. Este tipo de ducto contribui para a presença de alguns componentes na saliva, como as lisozima e lactoferrina. Seguindo, encontram-se os ductos estriados. Estes recebem a saliva primária produzida pelas unidades secretoras terminais e modificada pelos ductos intercalares. Os ductos estriados são os ductos em maior quantidade no parênquima glandular e se localizam entre os lóbulos. À coloração em HE, percebe-se sua eosinofilia, já que seu citoplasma é altamente acidófilo. Suas células são colunares com núcleo central e presença de invaginações nas porções basal e lateral dando o aspecto estriado a qual nomeia esse tipo de ducto. Esta célula é rica em mitocôndrias, porém pouco reticulo endoplasmático rugoso e complexo de Golgi são encontrados nela. Pequenas microvilosidades são vistas na porção apical dessa célula que, lateralmente, são unidas por desmossomos. Devido ao aumento de vascularização próximo a esse segmento de ducto, o produto salivar é modificado ao passo que segue por seu lúmen. As células do ducto estriado secretam conteúdo hipotônico com pouco Na+ e Cl- e alta concentração de K+. As mitocôndrias presentes nessas células atuam no bombeamento de Na+ para o interior da célula, enquanto K+ sai dela. Por fim, o conteúdo segue aos ductos excretores. Esses ductos são mais calibrosos e estão localizados – em sua maior parte -  nos septos de tecido conjuntivo interlobulares e são constituídos por epitélio pseudoestratificado colunar nas porções iniciais e epitélio estratificado cúbico com células caliciformes nas suas porções finais.

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        Tecido conjuntivo, vasos sanguíneos, nervos e vasos linfáticos compõem o estroma glandular. O estroma está presente nas glândulas salivares com as funções de dar suporte, levar suprimento sanguíneo e drenar a linfa, além de levar as fibras nervosas que controlam a secreção glandular. O maior componente do estroma é tecido conjuntivo frouxo composto por fibroblastos, leucócitos e bastante colágeno do tipo I. Devido à presença de glicosaminoglicanos e proteoglicanos, há também uma grande quantidade de água compondo a substância fundamental. Diversas arteríolas, vênulas e capilares realizam a irrigação e drenagem sanguínea das glândulas salivares que, quanto mais profundos no parênquima, mais delgados e mais função de filtração eles realizam. Toda a secreção e atividade celular das glândulas salivares é controlada pelos feixes nervosos que chegam à glândula acompanhando os vasos sanguíneos e se subdividem em dois tipos morfológicos, as relações epilemal e hipolemal. A relação epilemal se dá através da aproximação da célula nervosa com a célula secretora com uma separação um pouco maior. Neste caso, os neurotransmissores chegam às células secretoras através de difusão entre elas. Na relação hipolemal há uma proximidade maior dos feixes nervosos, os axônios penetram a lâmina basal e percorrem entre as células secretoras, levando o impulso nervoso até elas. O fluxo salivar é ativado através de regulação hormonal e através dos botões gustativos da cavidade bucal e mecanorreceptores do ligamento periodontal. A estimulação parassimpática é responsável por uma secreção rica em água com muita fluidez, enquanto a estimulação simpática está relacionada a uma secreção rica em componentes orgânicos, com muita viscosidade.

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     Aproximadamente 85% de toda a saliva é produzida pelas glândulas salivares maiores. Essas glândulas estão localizadas fora da cavidade bucal propriamente dita, porém se comunicam com ela através dos seus sistemas de ductos. Existem 3 grandes glândulas salivares, a parótida, a submandibular e a sublingual. Elas são bilaterais e são nomeadas por sua localização. As glândulas salivares maiores possuem inúmeras unidades secretoras terminais agrupadas e estroma bastante presente que as divide em lóbulos em seu interior. Em sua parte superficial, é rodeada por uma cápsula de tecido conjuntivo mais fibroso. A glândula parótida se localiza na porção lateral da face, anterior ao meato acústico externo, superficial ao osso zigomático posterior e lateralmente ao ramo mandibular. Ela se comunica com a cavidade bucal através do ducto parotídeo (ducto de Stenon) localizado na mucosa jugal na altura do segundo molar superior. A parótida é a maior das três glândulas e, segundo alguns autores, contém apenas ácinos serosos, logo, ao estudo histológico em HE a basofilia é evidente em seus núcleos arredondados basais, com uma grande quantidade de ductos intercalares devido às suas ramificações. Seu estroma é comum, porém pode apresentar adipócitos e linfonodos. De todas as glândulas maiores, este par de glândulas é responsável pela produção de 25% de toda a saliva. A glândula submandibular, por sua vez, é uma glândula composta por 75% de ácinos serosos e 25% de unidades secretoras terminais mucosas, logo uma glândula mista é responsável por aproximadamente 70% da produção salivar. Ao estudo histológico em HE, se percebe em sua maior parte a basofilia dos ácinos serosos e as unidades terminais mucosas esparsas mais palidamente localizadas. A glândula submandibular é localizada no trígono submandibular se relacionando com os músculos do assoalho bucal e língua e seus ductos se comunicam com a cavidade bucal na abertura dos ductos submandibulares (ducto de Wharton) na área das carúnculas sublinguais. Por fim, a glândula sublingual possui quase 100% de unidades secretoras terminais mucosas com pouquíssimos ácinos serosos. Ao exame histológico os ductos são curtos e pouco visíveis, enquanto se percebe a palidez generalizada causada pela frequência de terminais mucosos com porções mais basofílicas representando as semiluas serosas. Este conjunto de glândulas se relacionam com o músculo milo-hioide e desembocam na cavidade bucal através do ducto de Bartholin. Quando se fala de cavidade bucal, também há glândulas espalhadas por toda ela, as chamadas glândulas salivares menores. Localizadas na submucosa da cavidade bucal ou entre as fibras musculares da língua, estas glândulas salivares são principalmente mucosas com curtos ductos que desembocam na cavidade bucal própria. Ao contrário da maioria, as glândulas localizadas nas papilas circunvaladas no corpo da língua são serosas denominadas glândulas de von Ebner. As outras glândulas menores recebem o nome de sua localização, como glândulas labiais, palatinas e linguais.

       Após ser produzido pelos ácinos e unidades terminais e passar pelo sistema de ductos sofrendo modificações, esse conteúdo produzido pelas glândulas salivares finalmente chegam à cavidade bucal recebendo o nome de saliva. A saliva é um líquido incolor que, dependendo da glândula de origem, pode variar de viscoso a fluido, levemente ácido com diferentes compostos. A saliva é composta por eletrólitos como Na+, K+, HCO-3, Ca2+, Mg2+ e F-, proteínas e enzimas como amilase, mucina, prolina, histatina, lisozimas e lactoferrina, imunoglobulinas A, G e M, componentes orgânicos como glicose, aminoácidos, ureia, ácido úrico e lipídios, além de outros componentes como EGF (fator de crescimento epidermal), insulina, proteínas de ligação. A saliva apresenta várias funções, principalmente a de proteção da cavidade bucal, proteção esta que pode ser física, química e biológica. A saliva promove a varredura de bactérias não aderidas, detritos alimentares, auxiliando na manutenção do pH bucal através do sistema tampão salivar, manutenção da integridade dental através da solubilidade do cálcio e do fosfato. Do ponto de vista biológico, as mucinas e imunoglobulinas, além das enzimas presentes na saliva, auxiliam na barreira física e na defesa imunológica da cavidade oral, além da capacidade de reparo tecidual fornecida pelos fatores de crescimento e proteínas de regeneração presentes nela. A saliva também auxilia na formação do bolo alimentar, umedecendo-o e tornando-o mais fácil de ser deglutido e digerido, uma vez que existem mucina, amilase e lipase em sua composição. Uma vez que o alimento é introduzido na cavidade bucal, as moléculas começam a ser solubilizadas pela saliva, auxiliando na sensação do paladar pelos botões gustativos.

     As glândulas salivares são órgãos importantes para diversos sistemas do corpo humano, não apenas para o sistema estomatognático. Percebe-se a sua importância na homeostase corporal e, sua relação direta com o sistema digestivo, as torna peças importantes no organismo como um todo.

Referências bibliográficas

  1. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J.; ABRAHAMSOHN, P. Histologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. 

  2. KATCHBURIAN, Eduardo & ARANA, Victor. Histologia e embriologia oral: texto, atlas, correlações clínicas. 3. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.

  3. NANCI, Antonio. Ten Cate histologia oral: desenvolvimento, estrutura e função. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

  4. ROSS, Michel H.; PAWLINA, Wojciech. Ross histologia: texto e atlas: correlações com biologia celular e molecular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.

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