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     Desde a Grécia antiga, no tempo de Hipócrates, considerado o pai da medicina e seu contemporâneo, Aristóteles, temos registros de estudos anatômicos. Inclusive o termo anatomia vem do grego e quer dizer “cortar em partes” (ana = partes; tomein = cortar em), já que, geralmente, é necessária a dissecação de cadáveres para o estudo aprofundado da morfologia do corpo humano. Temos como morfologia, a ciência geral que estuda a forma, sendo a anatomia a parte da morfologia que estuda a forma macroscópica. A histologia, por exemplo, estuda a forma microscópica, ou seja, células, tecidos e outros componentes teciduais. Nesse contexto, ainda temos a embriologia que estuda como se formam as estruturas que compõem os organismos antes do nascimento (DÂNGELO e FATTINI, 2003; TORTORA e NIELSEN, 2017).

1. Terminologia Anatômica

   A anatomia é uma CIÊNCIA DESCRITIVA e, portanto, descreve as estruturas estudadas. Mas nem sempre foi assim!!! Desde os tempos mais remotos o homem mostrou interesse em compreender como o corpo humano era formado e suas funções. Vejam as imagens desenhadas nas paredes das cavernas!!! Imagine na Grécia e no Egito antigo, como as pessoas conseguiam se comunicar e entrar em um consenso sobre a nomenclatura das estruturas? Não existiam livros, os idiomas já eram diversos naquela época e não eram difundidos e muito menos a linguagem escrita. Além disso, a documentação das descobertas era bem mais difícil e, assim, difundir esse conhecimento também não era uma tarefa nada fácil. Não existiam boas estradas e nem telefone, o que falar da internet e das redes sociais? Dessa maneira, com o passar do tempo, com o desenvolvimento de novas tecnologias, documentação das descobertas em livros e até mesmo a melhoria da comunicação pela construção de estradas, por exemplo, tornou-se necessário uma padronização dos termos anatômicos.

      Para ficar mais claro, será que o cérebro era nomeado como cérebro em todas as partes do globo em que a anatomia estava sendo estudada? Agora imagine nos tempos atuais, uma pessoa está praticando uma atividade física com um educador físico e se machuca. O indivíduo se volta para o treinador e diz: “_ Acho que machuquei meu antebraço”. É de se esperar que o profissional saiba do que se trata o termo anatômico "antebraço", porque é um termo PADRONIZADO, ou seja, se encontra na terminologia anatômica internacional.

     A terminologia anatômica ou nômina anatômica é um compilado de termos padronizados utilizados internacionalmente para nomear as estruturas e regiões anatômicas e, dadas as diferenças de idiomas, antebraço é antebraço em qualquer lugar do mundo. A padronização dos termos anatômicos é importante, principalmente para a comunicação entre profissionais da área da saúde, já que a interdisciplinaridade é essencial à maioria dos tratamentos e prevenção de doenças. Apesar de existir os termos corretos a serem utilizados, também é importante que os profissionais conheçam os termos utilizados comumente e coloquialmente, pois nem todas as pessoas possuem conhecimentos anatômicos, não é mesmo?

     A nomenclatura anatômica utiliza muitos termos que podem ser abreviados para facilitar e acelerar a escrita, como em prontuários ou em livros quando o termo se repete muitas vezes. Essas abreviações são também padronizadas e, portanto, utilizadas da mesma maneira em qualquer lugar. Por exemplo (DÂNGELO e FATTINI, 2003):​

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2. Posição Anatômica

    Como identificar o que é direito e esquerdo? Superior e inferior? Superficial e profundo? A maioria dos termos anatômcos dependem de um referencial para terem significado. O nosso referencial para identificar regiões e estruturas anatômicas é a posição anatômica.

    A posição anatômica é uma posição adotada pelo corpo, porém, não é uma posição qualquer, é uma posição PADRONIZADA. Em qualquer lugar em que se realiza o estudo anatômico essa posição é utilizada para descrever as estruturas, ou seja, todo o estudo anatômico se baseia nesse referencial. Mesmo que o modelo ou peça não seja de corpo inteiro ou não esteja na posição ortostática, ou esteja em cortes, ou outra posição qualquer, devemos sempre imaginar e descrever as estruturas como se as mesmas se encontrassem na posição anatômica, evitando, assim, ambiguidades e discrepâncias nas descrições, pois padronizando a posição que as estruturas são estudadas, o pulmão esquerdo será o pulmão esquerdo em qualquer lugar do mundo.

     Observe a imagem a seguir e CLIQUE nas setas para compreender a padronização dessa possição do corpo.

3. Planos Anatômicos

    São planos imaginários que cruzam o corpo, muito utilizados na realização dos cortes em cadáveres, em incisões cirúrgicas, compreensão e realização de exames de imagem e muitas outras funções. Além disso, ao descrevermos se uma estrutura é anterior ou posterior, superficial ou profunda, e assim por diante, estamos nos baseando em pelo menos um plano anatômico, sendo assim, grande parte das descrições anatômicas são realizadas a partir da identificação desses planos.

   Portanto, ao estudar anatomia, principalmente um corte anatômico, você deve identificar em qual plano esse corte foi realizado. Em geral, temos quatro planos anatômicos básicos: plano sagital mediano, planos sagitais ou paramedianos, planos frontais e planos transversais. Um quinto tipo básico de plano também é descrito na literatura, os planos oblíquosCLIQUE nas setas dos planos para visualizar a descrição.

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4. Termos de Relação e Comparação e Lateralidade

    Termos que descrevem as relações e posicionamentos entre estruturas anatômicas utilizando como referência a posição anatômica e os planos anatômicos. CLIQUE nas nomenclaturas para visualizar a descrição de cada termo.

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Plano mediano
Plano frontal
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Plano transversal
Vista anterior
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Rim esquerdo
Rim direito
ENTENDA AS VISTAS ANATÔMICAS
Vista anterior
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Pulmão direito
Pulmão esquerdo
Traqueia
Fígado
Estômago

5. Eixos Anatômicos

     A definição de eixo é uma linha reta, real ou imaginária, que atravessa o centro de um corpo e em torno da qual esse corpo efetua ou pode efetuar o movimento de rotação, ou seja, o corpo roda em torno de um eixo. Nos estudos anatômicos utilizamos os eixos para estudar movimentos e para determinar a direção de cortes, principalmente, de tecidos. Na clínica, são muito utilizados para determinar a incidência dos raios X nos exames de imagens, por exemplo. Os eixos mais estudados são o longitudinal, o latero-lateral e o anteroposterior.

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6. Termos de Movimento

    Os movimentos realizados pelas partes do corpo possuem definição e nomenclatura específicas e portanto, existem termos anatômicos que definem os movimentos em relação à posição anatômica, aos planos anatômicos e aos eixos de movimento. Muitos desses termos também são utilizados para nomear estruturas, principalmente, músculos esqueléticos que realizam determinado movimento (p.ex. m. flexor longo do polegar). Os movimentos básicos são flexão/extensão, abdução/adução e rotações interna e externa.

     6.1. MOVIMENTOS BÁSICOS

     Vejam agora como identificamos o eixo e o plano em que os movimentos de FLEXÃO/EXTENSÃO são realizados.

FLEXÃO/EXTENSÃO DO COTOVELO

Esses movimentos acontecem ao redor de um eixo laterolateral no plano sagital.

Na flexão o ângulo entre o braço e o antebraço diminui. Na extensão o ângulo aumenta (retorna para 180°).

     Imagine sempre que o movimento é contínuo dando uma volta completa ao redor do eixo que ocupa o centro de uma articulação, nos casos dos movimentos articulares. O plano que permite o movimento completo é o plano do movimento. Por exemplo, se substituirmos o plano sagital pelo plano frontal nos movimentos de flexão/extensão, o plano frontal não permitirá que o movimento se realize, pois funcionará como uma barreira à esses movimentos (como se fosse uma parede). No plano sagital, apenas os movimentos de flexão/extensão são permitidos. Observem o exemplo da flexão/extensão do cotovelo abaixo.

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     Agora observem movimentos de flexão/extensão em outras articulações do corpo humano e conheça também um movimento novo possível apenas em determinadas articulações, a HIPEREXTENSÃO.

FLEXÃO/EXTENSÃO DO JOELHO

Esses movimentos acontecem ao redor de um eixo laterolateral no plano sagital.

Na flexão o ângulo entre a perna e a coxa diminui. Na extensão o ângulo aumenta (retorna para 180°).

FLEXÃO/EXTENSÃO/HIPEREXTENSÃO DO TRONCO

Esses movimentos acontecem ao redor de um eixo laterolateral no plano sagital.

Na flexão o ângulo entre o tronco e os MMII diminui. Na extensão o ângulo aumenta (retorna para 180°). Na hiperextensão, a angulação ultrapassa os 180°.

FLEXÃO/EXTENSÃO/HIPEREXTENSÃO DO PESCOÇO

Esses movimentos acontecem ao redor de um eixo laterolateral no plano sagital.

Na flexão o ângulo entre a cabeça e o tronco diminui. Na extensão o ângulo aumenta (retorna para 180°). Na hiperextensão, a angulação ultrapassa os 180°.

   Vejam agora como identificamos o eixo e o plano em que os movimentos de abdução/adução são realizados.

ABDUÇÃO/ADUÇÃO DO OMBRO

Esses movimentos acontecem ao redor de um eixo anteroposterior no plano frontal.

Na abdução, o membro se afasta do plano mediano e na adução, se aproxima.

     Imagine sempre que o movimento é contínuo dando uma volta completa ao redor do eixo que ocupa o centro de uma articulação, nos casos dos movimentos articulares. O plano que permite o movimento completo é o plano do movimento. Por exemplo, se substituirmos o plano frontal pelo plano transversal nos movimentos de abdução/adução, o plano transversal não permitirá que o movimento se realize, pois funcionará como uma barreira à esses movimentos (como se fosse uma parede). No plano frontal, apenas os movimentos de abdução/adução são permitidos. Observem o exemplo da abdução/adução do ombro abaixo.

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     Agora observem movimentos de abdução/adução em outra articulação do corpo humano.

ABDUÇÃO/ADUÇÃO DO QUADRIL

Esses movimentos acontecem ao redor de um eixo anteroposterior no plano frontal.

Na abdução, o membro se afasta do plano mediano e na adução, se aproxima.

       Vejam agora como identificamos o eixo e o plano em que os movimentos de rotação são realizados.

ROTAÇÃO INTERNA (MEDIAL)/ROTAÇÃO EXTERNA (LATERAL) DO OMBRO

Os movimentos acontecem no plano transversal.

Na rotação interna ou medial, o membro roda em torno de um eixo longitudinal em direção ao plano mediano. Na rotação externa ou lateral, o membro roda em torno de um eixo longitudinal se afastando do plano mediano.

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ROTAÇÃO INTERNA (MEDIAL)/ROTAÇÃO EXTERNA (LATERAL) DO QUADRIL

Os movimentos acontecem no plano transversal.

Na rotação interna ou medial, o membro roda em torno de um eixo longitudinal em direção ao plano mediano. Na rotação externa ou lateral, o membro roda em torno de um eixo longitudinal se afastando do plano mediano.

       A CIRCUNDUÇÃO é um movimento complexo e poucas articulações são capazes de executá-lo.

CIRCUNDUÇÃO DO OMBRO

A circundução é o movimento mais amplo que existe. É resultado da somação dos movimentos básico de flexão/extensão, abdução/adução e rotações interna e externa. 

CIRCUNDUÇÃO DO QUADRIL

A circundução é o movimento mais amplo que existe. É resultado da somação dos movimentos básico de flexão/extensão, abdução/adução e rotações interna e externa. 

     Algumas partes do corpo realizam movimentos diferenciados e recebem nomenclaturas específicas. Confira a seguir!

    6.2. MOVIMENTOS DO ANTEBRAÇO E MÃO

PRONAÇÃO/SUPINAÇÃO

Na pronação, a palma da mão se volta para baixo quando o cotovelo está fletido (em flexão) ou, na posição anatômica, se volta para trás.

Na supinação, a palma da mão se volta para cima quando o cotovelo está fletido (em flexão) ou, na posição anatômica, se volta para frente.

    6.3. MOVIMENTOS DOS PÉS

FLEXÃO DORSAL (DORSIFLEXÃO)/FLEXÃO PLANTAR

Na flexão dorsal ou dorsiflexão, o dorso do pé se aproxima da face anterior da perna.

Na flexão plantar, o dorso do pé se afasta da face anterior da perna. Como quando ficamos nas pontas dos dedos dos pés.

INVERSÃO/EVERSÃO

Na inversão, a planta do pé se volta para dentro (medial), se aproximando do plano mediano .

Na eversão, a planta do pé se volta para fora (lateral), se afastando do plano mediano .

     6.4. MOVIMENTOS DO TRONCO (E CABEÇA - não apresentado em vídeo)

INCLINAÇÃO LATERAL

Também pode ser denominada de flexão lateral para a direita ou para a esquerda.

O tronco e o pescoço realizam esse tipo de movimento.

    6.5. MOVIMENTOS DO OMBRO

PROTRAÇÃO/RETRAÇÃO

Na protração, as escápulas de afastam do plano mediano e, consequentemente, uma da outra.

Na retração, as escápulas de aproximam do plano mediano e, consequentemente, uma da outra.

ELEVAÇÃO/DEPRESSÃO

Na elevação, o membro sobe. Na depressão, o membro abaixa.

     6.6. MOVIMENTOS DO POLEGAR

OPOSIÇÃO/REPOSIÇÃO

O polegar é o dedo opositor, apesar do dedo mínimo (5º dedo) também realizar um pouco de oposição.

A oposição, é o movimento complexo que resulta a ação de encostar a polpa do polegar nas polpas dos demais dedos das mãos. Na opoosição existem componentes dos movimentos de adução, rotação medial e flexão. A reposição é o movimento que retorna o polegar à posição anatômica como componentes dos movimentos de abdução, rotação lateral e extensão.

FLEXÃO/EXTENSÃO

Os movimentos de flexão/extensão do polengar acontecem no plano frontal, diferente de outras articulações em que acontecem no plano sagital. 

Na flexão, o polegar se aproxima do plano mediano da mão. Na extensão, se afasta.

ABDUÇÃO/ADUÇÃO

Os movimentos de abdução/adução do polengar acontecem no plano sagital diferente de outras articulações em que acontecem no plano frontal. 

Na abdução, o polegar se afasta do 2º dedo como quando se forma a letra L (maiúscula). Na adução, o polegar se aproxima do 2º dedo retornando da posição de abdução.

    Agora você já conhece grande parte dos conceitos e termos anatômicos utilizados para o estudo da anatomia. O próximo passo é aplicar esse conhecimento!!! O ideal é que você manipule peças anatômicas e tente identificar e aplicar cada termo e conceito estudado e se não for aplicável à peça, busque outra até conseguir identificar e descrever todo o conteúdo.

 

 

BOM ESTUDO!!! 

      Todos os textos foram cuidadosamente elaborados e/ou revisados pela Profa. Dra. Giulianna R. Borges do Laboratório Morfofuncional e Microscopia da Universidade Federal de Sergipe/Campus Lagarto e membros da LAFIC e/ou monitores. Qualquer dúvida ou sugestões nos envie um email: 

REFERÊNCIAS

1. STANDRING, Susan. Gray’s, anatomia – A base anatômica da prática clínica. 40 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

2. MOORE, Keith L.  Anatomia orientada para a clínica. 7. ed.  Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

3. TORTORA, G J.; NIELSEN, M T. Princípios de Anatomia Humana. 12 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.

4. BORGES, G R. Anatomia e Fisiologia Humanas. Curitiba: IESDE, 2019.

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