O encéfalo é o grande centro de controle de quase todas as funções corporais e que nos diferencia dos demais animais. Apesar de sua importância, é um órgão extremamente frágil e, por esse motivo, é envolvido por um crânio rígido. "O encéfalo pode ser lesionado por um traumatismo craniano, pode ser comprimido por um tumor ou privado de oxigênio por uma ruptura ou um coágulo em uma das artérias cerebrais" (MOORE; DALLEY; AGUR, 2018).
Os ossos que envolvem o encéfalo constituem o neurocrânio e a cavidade que o contém é a cavidade craniana. Em seu interior, o encéfalo é dividido em telencéfalo (cérebro) e diencéfalo, cerebelo e tronco encefálico. Vale ressaltar que é muito comum alguns livros considerarem o telencéfalo e o diencéfalo como divisões do cérebro. Os giros, sulcos e fissuras do córtex cerebral podem ser visualizados através das delicadas lâminas das meninges aracnoide-máter e pia-máter quando os ossos que formam a calvária e a dura-máter são removidos . "Enquanto os giros e sulcos exibem muita variação, as outras características do encéfalo, inclusive as suas dimensões gerais, são bastante uniformes entre os indivíduos" (MOORE; DALLEY; AGUR, 2018).
Vista lateral direita do encéfalo
Vista medial do encéfalo
Vista superior da calvária
Vista superior do encéfalo na cavidade craniana
Vista superior da cavidade craniana e do hemisfério cerebral esquerdo
Cavidade craniana (divide-se em:)
Fossa craniana anterior
Fossa craniana média
Fossa craniana posterior (contém a:)
Fossa cerebelar
1. TRONCO ENCEFÁLICO
O tronco encefálico é contínuo superiormente à medula espinal e é dividido em bulbo, ponte e mesencéfalo, ocupando a fossa craniana posterior. Em geral, as funções do tronco encefálico são:
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conecta a estreita medula espinal ao prosencéfalo expandido servindo como conduto para os tratos ascendentes e descendentes;
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contém centros de reflexos importantes associados ao controle da respiração e do sistema cardiovascular e ao controle da consciência;
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contém os núcleos importantes dos nervos cranianos III a XII e suas origens aparentes.
Vista medial de corte sagital mediano
- Tronco Encefálico -
Vista ântero-inferior
- Tronco Encefálico -
1.1. Bulbo
Assim que a medula espinal passa pelo forame magno do osso occipital, ocorre uma dilatação do tecido nervoso formando a porção caudal do tronco encefálico, conhecida como bulbo (medula oblonga). Muitas das estruturas observadas na medula, principalmente, os sulcos e fissuras são contínuos nas faces bulbares, porém, várias modificações na substância cinzenta e branca começam a ser observadas, sendo as principais, o desenvolvimento de núcleos, como de alguns nervos cranianos, núcleos relacionados aos fascículos do funículo posterior e núcleos de centros cardiovasculares e respiratórios, o que confere a essa porção do tronco encefálico importante função relacionada à função cardiovascular e respiratória.
Vista anterior
Vista posterior
1.2. Ponte
A ponte é a porção média e mais volumosa do tronco encefálico. Está localizada anteriormente ao cerebelo e conecta o bulbo ao mesencéfalo. Sua nomenclatura se deve ao aspecto da sua face anterior, que se assemelha a uma ponte conectando os hemisférios cerebelares direito e esquerdo. De fato, a semelhança com uma ponte não é apenas em seu aspecto pois sua face anterior convexa mostra muitas fibras transversas que convergem em cada lado para formar o pedúnculo cerebelar médio, a principal estrutura que liga o cerebelo à ponte.
Vista anterior
Vista posterior
Vista posterior - estruturas relacionadas ao IVº ventrículo no bulbo e na ponte
Imagem retirada de PROMETHEUS, 2018.
1.3. Mesencéfalo
O mesencéfalo é a porção mais superior do tronco encefálico, mede em torno de 2 cm de comprimento e conecta a ponte e o cerebelo, ao diencéfalo e ao telencéfalo, estruturas originadas do prosencéfalo.
Vista anterior
Vista posterior
Pilar do cérebro
Tegmento
Imagem adaptada de Snell, 2010.
Vista medial de corte sagital mediano
Vista superior de corte transversal do mesencéfalo passando pelos colículos inferiores
Pedúnculo cerebral
Vista anterior
Vista posterior
Vista posteroinferior
Vista lateral esquerda
2. CÉREBRO
O cérebro é a maior parte do encéfalo, situado nas fossas anterior e média do crânio e ocupando toda a concavidade da calvária. Divide-se em duas partes: o diencéfalo, porção mais profunda e contínua com o mesencéfalo do tronco encefálico, e o telencéfalo, que forma a porção mais periférica e volumosa, os hemisférios cerebrais. Vale ressaltar que alguns autores consideram cérebro e telencéfalo como sinônimos, mas em nosso site vamos descrever o telencéfalo como uma divisão do cérebro.
Vista medial de corte sagital mediano
2.1. Diencéfalo
É a parte do cérebro composta pelo tálamo, hipotálamo, epitálamo e forma o núcleo central do encéfalo, contendo núcleos envolvidos com o processamento sensorial e motor entre os centros encefálicos superiores e inferiores. Alguns autores consideram uma quarta área como parte do diencéfalo, o subtálamo. Além disso, o diencéfalo contém o terceiro ventrículo e as estruturas que formam os seus limites.
Os limites do diencéfalo são determinados para facilitar sua compreensão, porém, na verdade, do ponto de vista funcional, as fibras nervosas cruzam esses limites livremente. Dessa forma, podemos dizer que o diencéfalo é uma região mediana (com metades simétricas direita e esquerda) que se estende anteriormente desde os forames interventriculares até o ponto em que o IIIº ventrículo se torna contínuo com o aqueduto do mesencéfalo.
Vista medial de corte sagital mediano
- Divisões do Diencéfalo -
Vista medial de corte sagital mediano
2.2. Telencéfalo
O telencéfalo é formado pelos hemisférios cerebrais, os quais contém um córtex em sua superfície, uma região interna de substância branca medular, formada por fibras comissurais, fibras de associação e fibras de projeção e que contém os núcleos da base de substância cinzenta profundamente.
Durante a formação do embrião (fase embrionária), o desenvolvimento do telencéfalo acontece de maneira súbita e de extrema velocidade, a cinética da substância cinzenta do córtex cerebral é mais rápida do que a da substância branca, além disso, o córtex cerebral cresce rapidamente dentro de uma cavidade fechada, a cavidade craniana, o que acarreta no dobramento da parte do córtex sobre si mesma. Assim, percebe-se na superfície do cérebro do Homo sapiens e de outras espécies próximas, várias depressões chamadas sulcos, que marcam os giros ou circunvoluções cerebrais.
Vista superior
Vista superior
Os hemisférios cerebrais (direito e esquerdo) desempenham maiores funções para a efetividade da parte funcional do cérebro e são separados parcialmente pela foice do cérebro na fissura longitudinal do cérebro, uma fissura bastante profunda e mediana, além de apresentar notadamente giros e sulcos do córtex cerebral.
Cada hemisfério cerebral é dividido em quatro lobos; cada um deles recebe o nome dos respectivos ossos do crânio aos quais estão relacionados, mas seus limites não coincidem com esses ossos. Cada lobo cerebral tem seus principais giros e sulcos, e dentre eles existem os principais que separam as regiões do cérebro e/ou são responsáveis por uma função específica.
Os sulcos primários do cérebro possuem pouca variabilidade e aparecem de forma mais constante em diferentes cérebros e, por isso, são utilizados para delimitar os lobos cerebrais.
Vista superior
- Lobos e sulcos primários -
Vista lateral direita
- Lobos e sulcos primários -
Vista lateral esquerda
Vista medial
- Lobos e sulcos primários -
Os sulcos secundários são mais variáveis, ou seja, apresentam mais variações anatômicas entre diferentes cérebros e até mesmo entre os hemisférios cerebrais de um mesmo cérebro. Esses sulcos delimitam giros cerebrais dentro dos lobos cerebrais.
Os lobos frontais ocupam a parte anterior do crânio (fossa anterior e parte anterior da calvária) e possuem três sulcos principais, que são os sulcos pré-central, frontal superior e frontal inferior. Entre o sulco central e o pré-central está o giro pré-central, responsável pela área motora do cérebro. Entre os sulcos frontal superior e frontal inferior, está o giro frontal médio e abaixo do sulco frontal inferior, o giro frontal inferior. Este último pode ser chamado de giro de Broca (mais predominante do lado esquerdo), onde se localiza uma das áreas motoras da linguagem. "A área da fala de Broca executa a formação de palavras por suas conexões com as áreas motoras primárias adjacentes; os músculos da laringe, boca, língua, palato mole e os músculos respiratórios são estimulados apropriadamente" (Snell, 2010).
Vista superior
- Lobos e sulcos primários e secundários -
Vista lateral direita
- Lobos e sulcos primários e secundários -
Vista inferior
- Lobos e sulcos primários e secundários -
Vista medial
- Lobos e sulcos primários e secundários -
Vista superior
Vista superior
2.2.1. NÚCLEOS DA BASE
Os núcleos da base são massas de substância cinzenta situadas na base do telencéfalo que participam de um complexo funcional envolvido no controle dos movimentos e de aspectos motivacionais de comportamento. De modo geral, esses núcleos auxiliam na regulação do início e término dos movimentos. Por isso, doenças desses núcleos podem ser caracterizadas por anormalidades nos movimentos, tônus muscular e postura. São 5 núcleos principais e duas estruturas adicionais:
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Claustro – É uma Lâmina de substância cinzenta lateral ao putâmen, com função desconhecida.
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Corpo amigdalóide ou amígdala – Componente do sistema límbico.
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Núcleo caudado – Dividido em cabeça, corpo e cauda, possui papel importante no sistema de aprendizado e memória do cérebro.
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Putâmen – Parte do núcleo lentiforme, atua na antecipação de movimentos corporais.
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Globo pálido – Parte do núcleo lentiforme, atua na regulação do tônus muscular para movimentos corporais específicos.
Estruturas adicionais, que formam o corpo estriado ventral:
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Núcleo Basal de Meynert
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Núcleo accumbens – Componente do sistema límbico, está relacionado ao sistema de recompensa do organismo.
Vale salientar que o núcleo caudado, o putâmen e o globo pálido formam o corpo estriado (pode ser chamado de corpo estriado dorsal), que é a principal estrutura de envio de estímulos dos núcleos da base. O corpo estriado pode ser dividido em neoestriado (formado pelo putâmen e o núcleo caudado) e paleoestriado (globo pálido). O globo pálido, ainda, divide-se em pálido medial e pálido lateral.
De forma geral, o corpo estriado estabelece sua função através da formação de circuitos em alça corticoestriado-talamocorticais. Esses circuitos começam no córtex, chegam no corpo estriado, seguem até o tálamo e se direcionam de volta para o córtex, de onde será gerado um impulso nervoso até a medula espinal. São conhecidos 5 tipos de circuito:
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Circuito motor – Participa da regulação da motricidade voluntária.
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Circuito oculomotor – Relacionado aos Movimentos oculares.
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Circuito pré-frontal dorsolateral – Atua em funções relacionadas à área pré-frontal.
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Circuito pré-frontal orbitofrontal – Gerencia atividades relacionadas à manutenção da atenção e supressão de comportamentos socialmente indesejáveis.
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Circuito límbico – Atua no processamento de emoções.
Vista medial de corte sagital
Vista medial de corte sagital mediano