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        O sistema urinário é formado por um par de rins (direito e esquerdo), um par de ureteres, uma bexiga urinária e uma uretra. Semelhante aos sistemas respiratório e digestório, o sistema urinário tem uma extensa área de contato com o sistema cardiovascular, o que permite que ele receba 25% do débito cardíaco e realize a filtração do plasma sanguíneo. Por meio dessa filtração, denominada filtração glomerular, cerca de 99% dos solutos e água que foram filtrados, retornam a corrente sanguínea. Sendo assim, 1% das substâncias que foram filtradas permanecem no interior dos túbulos renais e formam a urina, que flui pelos ureteres e é armazenada na bexiga até ser excretada do organismo pela uretra.
       As unidades funcionais do sistema urinário são os néfrons, os quais formam a maior parte do parênquima renal e, portanto, os rins fazem a maior parte do trabalho no sistema uriná­rio, ou pelo menos, realizam sua principal função que é a produção de urina. As outras partes do sistema são principalmente estruturas que formam as vias de pas­sagem e áreas de armazenamento, denominadas em conjunto de trato urinário.

          Além da produção de urina, os rins têm as seguintes funções (muitas vezes dependentes da produção de urina):

 

  •  Regulação da composição iônica do sangue: regulam os níveis plasmáticos de vários íons, como o sódio (Na+), potássio (K+), cálcio (Ca2+), cloreto (Cl–) e fosfato (HPO42–);

  • Regulação do volume sanguíneo: o aumento da volemia (volume sanguíneo) eleva a pressão arterial (PA) e a diminuição da mesma, reduz a PA. Assim, ao eliminar água pela urina ou conservar a água no organismo, os rins ajustam o volume sanguíneo contribuindo para a regulação a longo prazo da PA.

  • Regulação enzimática da PA: os rins também ajudam a regular a PA por secreção da enzima renina, que indiretamente eleva a PA por ativar a cascata para a formação da angiotensina II/aldosterona.

  • Manutenção da osmolaridade sanguínea: por meio da regulação independente da perda de água e de solutos na urina, os rins mantêm a osmolaridade sanguínea relativamente constante.

  • Regulação do pH sanguíneo: excreta íons hidrogênio (H+) na urina e reabsorve os íons bicarbonato (HCO3–), auxiliando a regular a homeostase ácido-base do organismo.

  • Produção de hormônios: os rins produzem dois hormônios, a forma ativa de vitamina D, chamada calcitriol, responsável pela regulação da homeostase do cálcio, e a eritropoetina que estimula a produção de hemácias.

     

1. Visão Geral da Anatomia do Sistema Urinário e Fáscias Renais

      Como já mencionado, os rins produzem urina que é conduzida pelos ureteres até a bexiga urinária na pelve. A urina é armazenada na bexiga urinária até que o reflexo de micção seja ativado para eliminação da urina por meio da uretra. A face superomedial de cada rim, normalmente, está em contato com uma das glândulas suprarrenais. Um septo fascial fraco separa as glândulas dos rins; assim, os dois órgãos não estão realmente fixados um ao outro. As glândulas suprarrenais atuam como parte do sistema endócrino com função completamente separada dos rins. Os órgãos urinários superiores (rins e ureteres), seus vasos e as glândulas suprarrenais são estruturas retroperitoneais primárias na parede posterior do abdome, isto é, foram originalmente formados como vísceras retroperitoneais e assim permanecem.

      Uma camada de tecido adiposo, chamada cápsula adiposa (gordura perirrenal) circunda os rins e seus vasos, enquanto se estende até suas cavidades centrais, os seios renais. Os rins, as glândulas suprarrenais e a gordura que os circunda estão encerrados (exceto inferiormente) por uma camada membranácea e condensada de fáscia renal, que continua medialmente e envolve os vasos renais, fundindo-se com as bainhas vasculares desses últimos. Inferomedialmente, uma extensão delicada da fáscia renal prolonga-se ao longo do ureter como a fáscia periureteral. Externamente à fáscia renal está o corpo adiposo pararrenal (gordura pararrenal), a gordura extraperitoneal da região lombar, que é mais visível posteriormente ao rim. A fáscia renal envia feixes colágenos através do corpo adiposo pararrenal.

      Os feixes de colágeno, a fáscia renal e a cápsula adiposa e o corpo adiposo pararrenal, juntamente com o aprisionamento proporcionado pelos vasos renais e ureter, mantêm os rins em posição relativamente fixa. No entanto, os rins se movem durante a respiração e ao passar da posição de decúbito dorsal para a posição ortostática, e vice-versa. A mobilidade renal normal é de cerca de 3 cm, a altura aproximada de um corpo vertebral. Superiormente, a fáscia renal é contínua com a fáscia na face inferior do diafragma (fáscia diafragmática); assim, as glândulas suprarrenais fixam-se principalmente ao diafragma. Inferiormente, as lâminas anterior e posterior da fáscia renal não estão fixadas ou apresentam apenas união frouxa.

VISTA ANTERIOR
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OBS. a uretra não está representada no modelo.
1.1. Rins

     Os rins são órgãos que têm formato oval, lembrando um grão de feijão. Estão situados no retroperitônio sobre a parede posterior do abdome, um de cada lado da coluna vertebral, no nível das vértebras T XII a L III.

        Na margem medial côncava do rim há uma fenda vertical, o hilo renal, que representa a entrada de uma cavidade no interior do rim, o seio renal. As estruturas que servem aos rins (vasos sanguíneos e linfáticos, nervos e estruturas que drenam urina do rim) entram e saem do seio renal através do hilo renal. O hilo renal esquerdo situa-se perto do plano transpilórico, a cerca de 5 cm do plano mediano. O plano transpilórico atravessa o polo superior (extremidade superior) do rim direito, que está por volta de 2,5 cm mais baixo do que o polo esquerdo, provavelmente por causa do fígado. Posteriormente, as partes superiores dos rins situam-se profundamente às costelas XI e XII. Os níveis dos rins modificam-se durante a respiração e com mudanças posturais. Cada rim move-se 2 a 3 cm em direção vertical durante o movimento do diafragma na respiração profunda. Como o acesso cirúrgico habitual aos rins é através da parede posterior do abdome, convém saber que o polo inferior (extremidade inferior) do rim direito está aproximadamente um dedo superior à crista ilíaca.

    Durante a vida, os rins têm coloração marrom-avermelhada e medem cerca de 10 cm de comprimento, 5 cm de largura e 2,5 cm de espessura. Superiormente, os rins estão associados ao diafragma, que os separa das cavidades pleurais e do 12º par de costelas. Inferiormente, as faces posteriores do rim têm relação com os músculos psoas maior medialmente e quadrado lombar. O nervo e os vasos subcostais e os nervos ílio-hipogástrico e ilioinguinal descem diagonalmente através das faces posteriores dos rins. O fígado, o duodeno e o colo ascendente são anteriores ao rim direito. Esse rim é separado do fígado pelo recesso hepatorrenal. O rim esquerdo está relacionado com o estômago, baço, pâncreas, jejuno e colo descendente.

      No hilo renal, a veia renal situa-se anteriormente à artéria renal, que é anterior à pelve renal. No rim, o seio renal é ocupado pela pelve renal, cálices maiores e menores, vasos e nervos e uma quantidade variável de gordura (gordura do seio renal). Cada rim tem faces anterior e posterior, margens medial e lateral e polos superior e inferior. No entanto, devido à protrusão da coluna vertebral lombar para a cavidade abdominal, os rins estão posicionados obliquamente, formando um ângulo entre eles). Consequentemente, o diâmetro transverso dos rins é reduzido em vistas anteriores  e em radiografias anteroposteriores (AP). A margem lateral de cada rim é convexa, e a margem medial é côncava, onde estão localizados o seio renal e a pelve renal.

       

VISTA ANTERIOR
VISTA POSTERIOR
VISTA MEDIAL
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1.1.1. Estrutura Interna dos Rins

       Internamente, cada rim consiste em um córtex renal, periférico, e em uma medula renal, profunda. O córtex renal é uma faixa superficial contínua de tecido claro, que envolve completamente a medula renal e é o local onde ocorre o processo inicial de formação da urina, a filtração do sangue, denominada filtração glomerular. A maior parte do fluxo sanguíneo renal (90%) se encontra nessa região renal, dada sua importância para o processo de filtração do sangue. Extensões do córtex renal, conhecidas como colunas renais, se projetam internamente em direção à medula renal, dividindo-a  em agregados descontínuos de tecido em forma triangular, as pirâmides renais. As bases das pirâmides renais estão voltadas em direção ao córtex renal, enquanto que o ápice de cada pirâmide renal se projeta internamente em direção ao seio renal. O ápice é denominado papila renal e está envolvido pelo cálice renal menor. Os cálices renais menores recebem a urina pronta por meio das papilas renais e representam a parte inicial do tubo que, por fim, formará o ureter. No seio renal, vários cálices renais menores se unem para formar um cálice renal maior, e dois ou três cálices renais maiores se unem para formar a pelve renal, que é o término superior em forma de funil que dará origem aos ureteres e pode ser visualizada saindo pelo hilo renal.
VISTA POSTERIOR DE CORTE FRONTAL
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1.1.2. Os Néfrons e a Vascularização Renal
       

       Os rins são extremamente vascularizados, uma vez que são responsáveis pela remoção de várias substâncias do sangue (plasma). As artérias renais, ramos da aorta abdominal, penetram o hilo de cada rim e começam a ramificar-se formando as artérias segmentares, as quais se distribuem entre os cálices renais, no seio renal, para atingir os lobos renais. Um lobo renal é formado por uma pirâmide e o córtex adjacente, ou seja, o córtex superior a ela e as metades das colunas renais que a envolvem. Ao chegar na região dos lobos renais, as artérias segmentares se ramificam formando as artérias interlobares, que sobem pelas margens das pirâmides renais. Na base das pirâmides, as artérias interlobares fazem uma curva e passam a ter um trajeto horizontal, sendo denominadas artérias arqueadas. Das artérias arqueadas partem vários ramos verticais, que penetram o córtex renal, as artérias interlobulares, assim denominadas por seus trajetos acontecerem ao longo dos lóbulos renais, os quais serão descritos mais à frente.

           As artérias interlobulares dão origem a dezenas de arteríolas aferentes, as quais penetram dentro de uma cápsula esférica, a cápsula glomerular ou de Bowman, estrutura que dá início à unidade funcional dos rins, o néfron. O néfron é formado por essa cápsula seguida por um conjunto de túbulos, sendo que tanto a cápsula como os túbulos possuem um lúmen em comum, onde é produzida a urina. Quando a arteríola aferente penetra na cápsula, se ramifica formando uma rede de capilares glomerulares, também denominados, glomérulo. É muito comum o termo corpúsculo renal se referir ao conjunto cápsula e capilares glomerulares. Em dado momento os capilares glomerulares se unem e formam outra arteríola, a arteríola eferente que sai da cápsula glomerular. Como a arteríola eferente é mais estreita que a arteríola aferente, a resistência no glomérulo é aumentada, o que facilita o processo de filtração.

          Observem que os capilares glomerulares são diferentes dos demais capilares do corpo, pois estão localizados entre duas arteríolas e não entre uma arteríola e uma vênula. Após um curto trajeto, a arteríola eferente inicia nova ramificação, formando os capilares peritubulares que se enovelam ao redor dos túbulos do néfron e possuem também grande importância para a formação da urina. Os capilares peritubulares possuem uma extremidade arterial e uma extremidade venosa e a partir dessa última temos o início da formação da rede venosa que realiza a drenagem renal. As vênulas peritubulares se formam a partir dos capilares peritubulares e a partir dessas, as veias interlobulares, veias arqueadas, veias interlobares, veias segmentares e veia renal, as quais acompanham as artérias e seus ramos de mesma nomenclatura, até saírem pelo hilo renal. Nas regiões em que os túbulos renais aprofundam na medula renal, as arteríolas eferentes dão origem a longos capilares, os vasos retos, que acompanham esses túbulos ao longo da medula.

          Voltando ao nosso néfron, o parênquima renal é formado por milhares dessas estruturas, que como mencionado, são as unidades funcionais dos rins. O sangue que flui pelas artérias renais e seus ramos passam pelos capilares glomerulares no interior da cápsula glomerular e devido às resultantes das forças pressóricas de Starling, acontece o processo de filtração glomerular, dando início à formação da urina. 

       O lúmen da cápsula glomerular se abre na primeira porção tubular do néfron, o túbulo contorcido proximal (TCP), o qual, assim como o corpúsculo renal, está localizado no córtex. Essa porção é espiralada e seu revestimento interno é constituído por células epiteliais cuboides com densas microvilosidades, responsáveis pela maior superfície de contato nesse segmento tubular e a grande capacidade de reabsorção nesse segmento tubular. A seguir, o TCP segue em direção à medula, formando uma alça, a alça de Henle, que pode aprofundar-se por toda extensão da medula (néfrons justamedulares) ou ser mais curta, aprofundando pouco na medula renal (néfrons corticais). A porção inicial da alça é descendente e fina (ramo descendente fino da alça de Henle), revestida por epitélio pavimentoso. Após realizar uma curva, inicia o trajeto ascendente (ramo ascendente fino da alça de Henle), com estrutura ainda estreita e revestimento pavimentoso, até que próximo ao córtex, a alça se alarga formando o ramo ascendente espesso da alça de Henle, revestido por epitélio cuboide com várias microvilosidades. A parte espessa da alça alcança o córtex e continua como uma nova porção espiralada, o túbulo contorcido distal (TCD), que se liga ao ducto coletor. Um único ducto coletor recebe vários TCDs e vários ductos coletores se agrupam nas pirâmides renais onde descem e se abrem nas papilas renais envolvidas pelos cálices renais menores.

NÉFRON
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NÉFRONS E ESTRUTURAS RELACIONADAS
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Porções do néfron cortical
Porções do néfron justamedular
1.1.3. Aparelho Justaglomerular
       

     Existe nos nossos rins, um sistema regulador capaz de controlar o ritmo de filtração, o próprio fluxo de sangue que adentra o glomérulo (fluxo plasmático renal) e até mesmo a pressão arterial (PA). Esse sistema responsável por todos esses processos é conhecido como sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA). As estruturas responsáveis pela ativação do SRAA formam o aparelho justaglomerular constituído por 3 tipos celulares localizados no néfron e na arteríola aferente: a mácula densa, as células granulares justaglomerulares e as células de Lacis ou células mesangiais extraglomerulares.

      A mácula densa é formada por o tecido que se diferenciou da parede adjacente ao corpúsculo renal, ele é formado por lâmina simples, colunar, com núcleos no centro e proximidade entre a células (com pouquíssimos espaços intracelulares). Está localizada na união entre a parte contorcida do túbulo distal e a parte reta (parte terminal do TCD). Responsável por emitir sinalizadores para as células justaglomerulares, a mácula funciona como uma portaria que fiscaliza a concentração dos principais íons, principalmente o Na+ e o Cl-.

       As células justaglomerulares são células musculares lisas diferenciadas da parede da arteríola aferente, apenas no local adjacente ao TCD. Elas são bem unidas (justapostas), com núcleos centrais e ricas em RER, complexo de Golgi e vesículas de secreção. A principal substância secretada é a renina, enzima responsável por desencadear a cascata do sistema angiotensina-angiotensina-aldosterona e, consequentemente, o controle da PA.

    Já as células mesangiais extraglomerulares estão presentes em uma região delimitada pela mácula densa e pelas arteríolas renais aferentes e eferentes, conhecida como região triangular.  Elas possuem muitas projeções e junções comunicantes (gap), e funcionam como uma central de suporte, responsável por inúmeras funções fisiológicas, como crescimento do epitélio e adesão das alças capilares.

      Sendo assim, o aparelho justaglomerular é constituído 3 componentes: uma central de percepção e comunicação-a mácula densa, uma central de produção de enzimas e controle efetivo da P.A e regulação da filtração glomerular-as células justaglomerulares- e uma central de apoio-as células mesangiais extraglomerulares.

NÉFRONS E ESTRUTURAS RELACIONADAS
CORTE HISTOLÓGICO PASSANDO PELO APARELHO JUSTAGLOMERULAR
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* Notem que o TCD se volta em direção à cápsula glomerular e mantém relação anatômica com as arteríolas renais.
1.2. Ureteres

     Os ureteres são ductos musculares  com 25 a 30 cm de comprimento com lúmens estreitos e que conduzem a urina dos rins até a bexiga urinária. Seguem inferiormente dos ápices das pelves renais, nos hilos renais, passando sobre a margem da pelve maior na bifurcação das artérias ilíacas comuns. A seguir, passam ao longo da parede lateral da pelve e entram na bexiga urinária.

   As partes abdominais dos ureteres aderem intimamente ao peritônio parietal e têm trajeto retroperitoneal. No dorso, a impressão superficial do ureter é uma linha que une um ponto 5 cm lateral ao processo espinhoso de L I e a espinha ilíaca posterossuperior. Os ureteres ocupam um plano sagital que cruza as extremidades dos processos transversos das vértebras lombares. Nas radiografias contrastadas, os ureteres normalmente apresentam constrições relativas em três locais: (1) na junção dos ureteres e pelves renais, (2) onde os ureteres cruzam a margem da abertura superior da pelve, e (3) durante sua passagem através da parede da bexiga urinária. Essas áreas de constrição são possíveis locais de obstrução por cálculos ureterais. 

 

OBS: As anomalias congênitas dos rins e ureteres são bastante comuns.

     Ao cruzarem a bifurcação da artéria ilíaca comum (ou o início da artéria ilíaca externa), os ureteres passam sobre a margem da pelve, deixando o abdome e entrando na pelve menor. As partes pélvicas dos ureteres seguem nas paredes laterais da pelve, paralelas à margem anterior da incisura isquiática maior, entre o peritônio parietal da pelve e as artérias ilíacas internas. Próximo à espinha isquiática, eles se curvam anteromedialmente, acima do músculo levantador do ânus, e entram na bexiga urinária. As extremidades inferiores dos ureteres são circundadas pelo plexo venoso vesical.

     Os ureteres passam obliquamente através da parede muscular da bexiga urinária em direção inferomedial, entrando na face externa da bexiga urinária distantes um do outro cerca de 5 cm, mas suas aberturas internas no lúmen da bexiga urinária vazia são separadas por apenas metade dessa distância. Essa passagem oblíqua através da parede da bexiga urinária forma uma “válvula” unidirecional, e a pressão interna ocasionada pelo enchimento da bexiga urinária causa o fechamento da passagem intramural. Além disso, as contrações da musculatura vesical atuam como esfíncter, impedindo o refluxo de urina para os ureteres quando a bexiga urinária se contrai, o que aumenta a pressão interna durante a micção. A urina é transportada pelos ureteres por meio de contrações peristálticas, sendo levadas algumas gotas a intervalos de 12 a 20 segundos.

      Nos homens, a única estrutura que passa entre o ureter e o peritônio é o ducto deferente, que cruza o ureter na prega interuretérica do peritônio. O ureter situa-se posterolateralmente ao ducto deferente e entra no ângulo posterossuperior da bexiga urinária, logo acima da glândula seminal.

       Nas mulheres, o ureter passa medialmente à origem da artéria uterina e continua até o nível da espinha isquiática, onde é cruzado superiormente pela artéria uterina. Em seguida, passa próximo da parte lateral do fórnice da vagina e entra no ângulo posterossuperior da bexiga urinária.

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1.3. Bexiga Urinária

     A bexiga urinária, uma víscera oca formada por fortes paredes musculares, é caracterizada por sua distensibilidade ou capacidade de se adaptar ao seu conteúdo. A bexiga é um reservatório temporário de urina e varia em tamanho, formato, posição e relações de acordo com seu conteúdo e com o estado das vísceras adjacentes. Quando vazia, a bexiga urinária do adulto está localizada na pelve menor, situada parcialmente superior e parcialmente posterior às partes púbicas dos ossos do quadril. É separada desses ossos pelo espaço retropúbico (de Retzius) virtual e situa-se principalmente inferior ao peritônio (subperitoneal), apoiada sobre o púbis e a sínfise púbica anteriormente e sobre a próstata (nos homens) ou parede anterior da vagina (nas mulheres) posteriormente. A bexiga urinária está relativamente livre no tecido adiposo subcutâneo extraperitoneal, exceto por seu colo, que é fixado firmemente pelos ligamentos laterais vesicais e o arco tendíneo da fáscia da pelve, sobretudo seu componente anterior, o ligamento puboprostático em homens e o ligamento pubovesical em mulheres. Nas mulheres, como a face posterior da bexiga urinária está diretamente apoiada na parede anterior da vagina, a fixação lateral da vagina ao arco tendíneo da fáscia da pelve, o paracolpo, é um fator indireto, mas importante na sustentação da bexiga urinária. Além disso, a bexiga urinária feminina é menor que a masculina devido ao desenvolvimento do útero.

      Em lactentes e crianças pequenas, a bexiga urinária está no abdome mesmo quando vazia. Em geral, a bexiga urinária entra na pelve maior aos 6 anos de idade; entretanto, só depois da puberdade está completamente localizada na pelve menor. A bexiga urinária vazia, no adulto, situa-se quase toda na pelve menor, estando sua face superior no mesmo nível da margem superior da sínfise púbica. À medida que se enche, a bexiga urinária entra na pelve maior enquanto ascende no tecido adiposo extraperitoneal da parede abdominal anterior. Em alguns indivíduos, a bexiga urinária cheia pode chegar até o nível do umbigo.

       Ao fim da micção, a bexiga urinária de um adulto normal praticamente não contém urina. Quando vazia, a bexiga urinária tem um formato quase tetraédrico e externamente tem ápice, corpo, fundo e colo. As quatro superfícies ou faces da bexiga urinária (superior, duas inferolaterais e posterior) são mais aparentes na bexiga urinária vazia e contraída que foi removida de um cadáver, quando o órgão possui o formato semelhante ao de um barco.

     O ápice da bexiga aponta em direção à margem superior da sínfise púbica quando a bexiga urinária está vazia. O fundo da bexiga é oposto ao ápice, formado pela parede posterior um pouco convexa. O corpo da bexiga é a parte principal da bexiga urinária entre o ápice e o fundo. O fundo e as faces inferolaterais encontram-se inferiormente no colo da bexiga.

     O leito da bexiga é formado pelas estruturas que têm contato direto com ela. De cada lado, os púbis, a fáscia que reveste o músculo levantador do ânus e a parte superior do músculo obturador interno estão em contato com as faces inferolaterais da bexiga urinária. Apenas a face superior é coberta por peritônio. Consequentemente, nos homens o fundo da bexiga é separado do reto centralmente apenas pelo septo retovesical fascial e lateralmente pelas glândulas seminais e ampolas dos ductos deferentes. Nas mulheres, o fundo da bexiga tem relação direta com a parede anterossuperior da vagina. A bexiga urinária é revestida por uma fáscia visceral de tecido conjuntivo frouxo.

      As paredes da bexiga urinária são formadas principalmente pelo músculo detrusor. Em direção ao colo da bexiga masculina, as fibras musculares formam o músculo esfíncter interno da uretra involuntário. Esse esfíncter se contrai durante a ejaculação para evitar a ejaculação retrógrada (refluxo ejaculatório) do sêmen para a bexiga urinária. Algumas fibras seguem radialmente e ajudam na abertura do óstio interno da uretra, localizado na saída do colo da bexiga urinária. Nos homens, as fibras musculares no colo da bexiga são contínuas com o tecido fibromuscular da próstata, ao passo que nas mulheres essas fibras são contínuas com fibras musculares da parede da uretra.

     No fundo da bexiga urinária podemos observar as aberturas dos óstios dos ureteres formando, juntamente com o óstio interno da uretra, uma região de mucosa lisa e de forma triangular, o trígono da bexiga. Os óstios dos ureteres estão nos ângulos laterais e o óstio interno da uretra está no ângulo inferior do trígono da bexiga. Os óstios do ureter são circundados por alças do músculo detrusor, que se contraem quando a bexiga urinária se contrai para ajudar a evitar o refluxo de urina para o ureter. A úvula da bexiga é uma pequena elevação do trígono; geralmente é mais proeminente em homens idosos em razão do aumento do lobo posterior da próstata.

VISTA MEDIAL DA PELVE FEMININA
VISTA MEDIAL DA PELVE MASCULINA
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VISTA MEDIAL DA PELVE FEMININA
VISTA LATERAL ESQUERDA DA BEXIGA MASCULINA
VISTA ANTERIOR DA BEXIGA MASCULINA
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VISTA POSTERIOR DA BEXIGA MASCULINA
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VISTA ANTERIOR DE CORTE FRONTAL DA BEXIGA MASCULINA
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1.4. Uretra

       A uretra é a porção terminal do trato urinário e é ela quem direciona a urina armazenada na bexiga urinária para ser eliminada por meio do óstio externo da uretra. Existem grandes diferenças anatômicas entre a uretra masculina e feminina, visto que a uretra faz parte tanto do sistema urinário como do sistema genital em homens.

1.4.1 Uretra Feminina

   A uretra feminina (com cerca de 4 cm de comprimento e 6 mm de diâmetro) segue anteroinferiormente do óstio interno da uretra na bexiga urinária, posterior e depois inferior à sínfise púbica, até o óstio externo da uretra. A musculatura que circunda o óstio interno da uretra da bexiga urinária feminina não está organizada em um esfíncter interno, mas funciona de certa forma como tal. O óstio externo da uretra feminina está localizado no vestíbulo da vagina, a fenda entre os lábios menores dos órgãos genitais externos (pudendo), diretamente anterior ao óstio da vagina. A uretra situa-se anteriormente à vagina (formando uma elevação na parede anterior da vagina); seu eixo é paralelo ao da vagina. A uretra segue com a vagina através do diafragma da pelve, músculo esfíncter externo da uretra e membrana do períneo (OBS: é comum denominarmos esse conjunto de estruturas de esfíncter externo da uretra). O músculo esfíncter externo da uretra faz parte dos músculos que formam o diafragma que reveste o assoalho da pelve. Na mulher, essa musculatura esquelética tem importância primordial na continência urinária, visto que o esfíncter interno da uretra é relativamente ausente.

       Há glândulas na uretra, sobretudo em sua parte superior. Um grupo de glândulas de cada lado, as glândulas uretrais, é homólogo à próstata. Essas glândulas têm um ducto parauretral comum, que se abre (um de cada lado) perto do óstio externo da uretra.

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VISTA MEDIAL DA PELVE FEMININA
1.4.2 Uretra Masculina

     A uretra masculina é um tubo muscular (18 a 22 cm de comprimento) que conduz urina do óstio interno da uretra na bexiga urinária até o óstio externo da uretra, localizado na extremidade da glande do pênis. A uretra também é a via de saída do sêmen (espermatozoides e secreções glandulares). Para fins descritivos, a uretra é dividida e quatro partes. As partes intramural e prostática estão localizadas na pelve e as partes membranácea e esponjosa, distais, pertencem ao períneo.

    A parte intramural (pré-prostática) da uretra é o curto trajeto em que a uretra inicia na bexiga urinária e contém o óstio interno da uretra. O diâmetro e o comprimento dessa parte variam quando a bexiga urinária está se enchendo. Nesse período, há contração tônica do esfíncter interno da uretra e, consequentemente, do colo da bexiga, de modo que o óstio interno da uretra apresenta-se pequeno e alto; o óstio interno da uretra de enchimento. Durante o esvaziando, o esfíncter interno da uretra relaxa e também o colo da bexiga, e, portanto, o óstio apresenta-se largo e baixo; o óstio interno da uretra de esvaziamento. 

     Assim que sai da bexiga urinária, a uretra penetra na próstata, glândula masculina que repousa no assoalho da pelve, imediatamente inferior à bexiga urinária. A característica mais proeminente da parte prostática da uretra é a crista uretral, uma estria mediana entre sulcos bilaterais, os seios prostáticos. Os dúctulos prostáticos secretores abrem-se nos seios prostáticos. O colículo seminal é uma elevação arredondada no meio da crista uretral com um orifício semelhante a uma fenda que se abre em um fundo de saco pequeno, o utrículo prostático. O utrículo é o vestígio remanescente do canal uterovaginal embrionário, cujas paredes adjacentes, na mulher, constituem o primórdio do útero e uma parte da vagina (Moore et al., 2012). Os ductos ejaculatórios se abrem na parte prostática da uretra através de pequenas aberturas semelhantes a fendas localizadas adjacentes ao orifício do utrículo prostático e, às vezes, logo dentro dele. Assim, os tratos urinário e genital "se fundem" nesse ponto.

       Como a próstata é sustentada pelo assoalho da pelve, ao sair dessa glândula, a uretra atravessa as estruturas que formam esse assoalho e passa a ser denominada de parte membranácea da uretra. Essa é a porção mais estreita e menos distensível do tubo, atravessando o espaço profundo do períneo, as fibras circulares (esfinctéricas) do m. esfíncter externo da uretra (m. esquelético) e membrana do períneo, para logo em seguida, penetrar o corpo esponjoso do pênis.

       A porção terminal da uretra é a mais longa e mais móvel e se encontra no corpo esponjoso do pênis, razão pela qual é denominada de parte esponjosa da uretra. Essa parte inicia no bulbo do pênis (na raiz), onde há um alargamento inicial, e termina no óstio externo da uretra na glande peniana, local de um novo alargamento, a fossa navicular.

VISTA MEDIAL DA PELVE MASCULINA
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VISTA ANTERIOR DE CORTE FRONTAL DA BEXIGA MASCULINA
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